terça-feira, 31 de março de 2009

O Sonho de uma Vida

Bom, ando a escrever uma espécie de história que vou colocar aqui, aos poucos. Sinceramente não lhe dediquei o tempo e a atenção que queria, mas tendo em conta que é a primeira vou dar um desconto a mim própria e espero que façam o mesmo...






Mais uma vez estava naquele local. Aquele velho jardim trazia-lhe tantas memórias… Era um jardim comum, igual a tantos outros. Bom, pelo menos era assim que era visto pela maioria das pessoas da cidade, que passavam sem olhar, sem parar, sem desfrutar. Mas para ela era muito mais do que isso. Gostava de passar ali todo o tempo livre que tinha, num mundo que lhe era tão especial, tão seu.
Os velhos bancos de madeira encontravam-se já gastos, sem tinta, alguns até mesmo partidos, mas não deixavam por isso de aconchegar os velhos reformados que gostavam de se ali passar o dia, vendo as pessoas que passavam na rua: o carteiro que distribuía boas e más notícias; os jovens enérgicos e activos que ora lhes provocavam inveja e saudade daquela vigorosa idade remetendo-os para memórias do passado e fazendo-os garantir a quem lhes fazia companhia que haviam sido dos rapazes mais fortes e aventureiros do seu tempo (outras vezes falando sozinhos, para quem os quisesse e não quisesse ouvir) ora eram alvos dos seus comentários estarrecidos, baseados em educações demasiado conservadoras face a uma sociedade demasiado liberal; as crianças que carregadas de sonhos e alegria corriam para o parque adjacente, onde sem quaisquer preconceitos, saltavam livremente. Aconchegavam amigos, confissões, desejos, presenciavam simples trocas de lanches, assistiam aos tímidos primeiros beijos e até juras de amor eterno, quase tão loucas como aquela velha mendiga ao fundo do jardim, com um olhar triste e penetrante.
Mas Sofia não era uma das que procuravam aconchego, pelo menos não naqueles bancos. Optava por ficar sentada no chão sujo, junto a um lago espantosamente límpido, que em tudo contrastava com o ambiente em que se inseria. Era totalmente diferente de tudo o que o rodeava e por isso a fascinava tanto. Tinha sido aqui que tinha crescido: em pequena tinha por rotina ir com a companhia do seu avô brincar e passear naquele jardim, que ficava a cerca de 10 minutos de sua casa. O caminho era todo feito a pé e, de mão dada com ele, ia entusiasmada pelo caminho a fazer perguntas sobre estes e outros mundos ouvindo de forma atenta e fascinada cada explicação fornecida. Às vezes perdia-se a olhar para os óculos dele, que costumava colocar quando, dizia ela, “queria falar de coisas sérias”, colocando um ar de quem muito sabia e apoiando as mãos na cintura, numa postura muito segura de si.
Lembra-se como se fosse ontem de todas as histórias de heróis que repetidamente lhe pedia para contar, de todas as histórias de reis e rainhas, das conquistas, de seres de outras eras, de mundos fantásticos e até da mais insignificante flor. Lembra-se como se fosse ontem dos valores e princípios que lhe procurava transmitir, com pensamentos grandes, através de palavras pequenas e simples. Lembra-se como se fosse ontem do cheiro a cachimbo do seu casaco onde tantas vezes se enroscava ternamente. Lembra-se como se fosse ontem da protecção que tanta vez prometeu dar-lhe sempre que precisasse. Lembra-se como se fosse ontem de todos os segredos, receios e sonhos que só a ele lhe segredava. Lembra-se como se fosse ontem de ele estar ali, com ela. Mas não foi. E toda a segurança que tinha ficou perdida no passado. Já tinham passado quatro meses e a dor agudizava cada vez mais. A saudade e o nó na garganta eram cada vez mais fortes. A única pessoa que alguma vez a havia compreendido e estado sempre presente, a única que lhe dava atenção, conforto, carinho, afecto, força e apoio tinha partido para sempre e desde então que não conseguia verter uma única lágrima. Estava apática em relação a tudo, em relação a todos.


[ Continua ... ]

7 comentários:

  1. O que é que eu posso dizer? Está FANTÁSTICO!. :D

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  2. Adorei, adorei... vou voltar cá para ler o resto :)

    Beijinho

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  3. ahah isso é muito bom ^^

    eu adoro fotografia. sou completamente viciada, apaixonada e sei lá. Adoro. Adoro arte. Mas fotografia é amor. Aquela onde comentaste é de Chema Madoz. Um grande nome em Espanha. Faz uma pesquisa que vale a pena. Ele reinventa tudo. As funções que julgamos lógicas em cada objecto ganham um novo significado em cada fotografia dele. :p

    é genial. :D

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  4. o que é que eu posso dizer? NAO É QUE LINDO, PORQUE NÃO VÊS GREY'S E NÃO PERCEBESTE ABSOLUTAMENTE NADA DO QUE ELE DISSE :D ahahah

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  5. continua, estou curiosa para ler o resto :) **

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