sexta-feira, 20 de março de 2009

Amar


"Que pode uma criatura senão,
entre criaturas amar?
amar e esquecer,

amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amar sem contra
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa,
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita. "


Carlos de Andrade

3 comentários:

  1. Diz-me que tudo vai correr bem. Diz-me que tudo vai ficar bem. Diz-me que foi o melhor para mim. Consegues dizer? Eu não!

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  2. amar, perdoar(...)
    paixão qe gera tudo e acaba tudo.
    É a vida.

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